Enquanto o Flamengo de Ronaldinho & Cia. realiza uma boa temporada,
com direito a título estadual invicto, vice-liderança do Brasileiro e
apenas uma derrota, seu xará do Piauí vive um momento negro de sua
história. A Raposa, apelido do Fla local, encerra sua participação no
Campeonato Piauiense neste sábado, contra o Picos, no Estádio Municipal
Lindolfo Monteiro. Com apenas sete pontos em 15 jogos, a equipe -
derrotada em todas as partidas do segundo turno - entraria em campo já
rebaixada. A queda, porém, não se consumará pois não há rebaixamento
previsto no regulamento deste ano, repetindo o do ano passado.
O presidente do Esporte Clube Flamengo, Jankel Costa, empossado no último dia 3, tenta explicar a crise.
- Estávamos sem presidente desde dezembro, quando a oposição, com uma
liminar judicial, impediu a eleição sob a alegação de que ela não seria
realizada de acordo com o estatuto do Flamengo. Assim, após a saída do
Everaldo Cunha (presidente que o antecedeu e de quem Jankel era vice), a
Justiça nomeou um interventor (José Telles). Ele, que nem torcedor do
Flamengo é, assumiu o clube. Depois disso, como o José Telles não
remarcou as eleições, algo que deveria ter feito, outro interventor,
Raimundo Miranda, foi nomeado. Ele remarcou o pleito para o último dia
3, e eu venci Fernando Modesto por 62 votos a 50 - explicou, por
telefone.
"Nossos treinos não são em dois períodos, pois os jogadores precisam de vale-transporte. Às vezes, tiramos do nosso próprio bolso"
Laércio, zagueiro
Em relação à péssima campanha do Rubro-Negro em campo, o massagista
Neto Amâncio tem uma explicação simples: as péssimas condições de treino
e salários irrisórios. A imprensa local, aliás, trata o local das
atividades flamenguistas como um campo de várzea.
- Não era um campo de várzea, mas não é adequado para a prática do
esporte. Muito duro, ele tem provocado diversas tendinites de joelho e
tornozelo nos atletas. Não tínhamos trave móvel para treinar nossos
goleiros. Os outros times treinam em dois expedientes enquanto nós só
treinávamos em um período. Não fizemos trabalho em academia. Além disso,
não dá para formar um time bom com jogadores ganhando entre R$ 500 e R$
800. Um ou outro chegavam a um salário de R$ 2 mil, mas é muito raro.
Acho que isso se deve aos seis meses em que ficamos sem diretoria. Agora
temos presidente e acredito que as coisas vão melhorar - resumiu.
O zagueiro Laércio, um dos mais experientes do grupo, com 27 anos,
endossa as palavras de Neto e amplifica a crise técnica da equipe,
creditando-a à estrutura precária do clube.
- Treinamos num campo de pelada chamado Parentão, no subúrbio. À tarde,
a população local joga bola ali. Como chegamos lá pela manhã, nunca
precisamos pedir para ninguém sair, mas o Flamengo não nos oferece
nenhuma estrutura. Nossos treinos não são em dois períodos, pois os
jogadores precisam de vale-transporte. Às vezes, tiramos do nosso
próprio bolso. Falta dinheiro para pegar ônibus duas vezes para a
maioria do time. Em geral, eles tiram um salário mínimo (R$ 545). Recebo
um pouco mais por ter mais rodagem - explicou.
O defensor ainda atribui os sete pontos conquistados em 15 jogos à
entrada de garotos oriundos do Rio de Janeiro, todos trazidos por um
empresário - Laércio, Jankel e Everaldo garantiram não saber o nome
dele.
- A maioria tinha entre 20 e 21 anos. Acredito que eles não se
adaptaram ao nosso futebol. Quase todos assinaram seu primeiro contrato
no Flamengo. Agora tive uma informação de que foram jogar a Segunda
Divisão de Goiás. Essa crise política explica nossa queda. De 2009 a
2010 ficamos 29 jogos invictos. O Fla sempre teve problemas, mas neste
ano ele extrapolou. Confesso que não tenho planos de ficar - concluiu.
O presidente Jankel Costa garante que a diretoria anterior não tem
qualquer responsabilidade pelo fracasso do clube e promete recorrer ao
primo rico Flamengo. Assim, ele acredita que poderá limpar o nome do
Rubro-Negro do Piauí, que participou da Série A nos anos de 1976, 1977,
1978, 1980 e 1985.
- Vou me reunir com a Patrícia Amorim e o Helinho (Ferraz,
vice-presidente) e demonstrar a situação do nosso Flamengo, o primo
pobre. Espero aprender com eles modelos de administração, conseguir
know-how e, no ano que vem, vocês vão nos procurar para fazer uma
reportagem sobre o título estadual do meu Flamengo - concluiu.
O fato é que o Flamengo-PI encerra suas atividades futebolísticas de
2011 no sábado moralmente rebaixado. E não seria a primeira queda do
clube - caiu pela primeira vez em 2007. Segundo o próprio presidente
Jankel, o retorno à elite piauiense só foi possível após uma manobra no
tapetão.
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